Dica avançada: HSD1- A enzima ligada ao hormônio do estresse que faz o seu corpo acumular gorduras. – Parte 1

muito estresse aumenta a gordura corporal

Opá, tudo bom?? Hoje neste artigo eu quero lhe explicar um pouco mais sobre a fisiologia do Estresse e como pequenos detalhes podem afetar seus objetivos de boa forma, aumentando o ganho de gordura corporal e aumentando a perda de massa muscular.

Pode parecer o assunto mais estranho não?! Afinal, o que Estresse tem a ver com acumular gorduras? Acredite, tem muito… Este é inclusive um dos pontos que eu abordo no mini curso “Por que seu corpo acumula gorduras? Os 3 pontos-chave” que você deve fazer para começar a dominar o conhecimento necessário para entrar em forma e nunca mais engordar. Clique aqui se quiser assisti-lo gratuitamente.

O estresse, ou melhor, a fisiologia do estresse é um dos pilares que acredito formar a base para a perda da saúde e de quebra, aumentar ainda mais o percentual de gorduras. 🙁

Tudo porque o estresse crônico, excessivo, influencia a liberação de hormônios no seu corpo e hormônios precisam estar em equilíbrio para manterem o corpo funcionando corretamente, nem o excesso é bom e nem a falta também.

Quando estamos estressados ou enfrentamos uma situação de estresse, o corpo se prepara para agir, para movimentar-se. É aqui que entre a famosa frase “lutar ou correr”. E isto é bem verdade, o seu corpo se prepara para a ação, para a luta ou a fuga, e este mecanismo foi criado para justamente garantir a preservação da espécie, que começa lá atrás quando ainda não tínhamos telefone celular, automóveis, aviões, pizzarias, sorveterias e supermercados. Começa na época dos nossos ancestrais, do homem das cavernas, do homem primitivo.

A reação de estresse era (e ainda é) uma mecanismo de Sobrevivência, super eficiente e que entre outras coisas, libera energia rapidamente para ser utilizada pelos músculos que foram preparados para a ação, tudo em questão de segundos… E para que isto aconteça existe uma interação entre o sistema nervoso e o sistema que controla os hormônios, o sistema endócrino. E o hormônio “mestre” do estresse chama-se Cortisol.

O que quero focar hoje é em um conhecimento mais avançado, mais especificamente sobre uma enzima chamada 11-beta-hidroxiesteroide desidrogenase do tipo 1, (chamaremos ela de HSD1, muito melhor né?! 🙂 ) a qual é responsável por sinalizar intracelularmente (dentro da célula) para que a própria célula de gordura continue a ser exposta ao cortisol e isso faz com que as células adiposas acumulem mais gorduras e depois, como você pode minimizar este efeito. 🙂

Veja, este tipo de conhecimento você não vê na mídia convencional normalmente. É mais fácil falar da “pílula mágica” que faz você entrar em forma rápido, sem esforço, da noite para o dia (o que sabemos não ser verdade) do que a verdadeira informação que pesquisadores sérios ao redor do mundo compartilham através de seus livros e artigos. Infelizmente…

Eu sei que este artigo será um pouco mais avançado devido à especificidade do assunto, no entanto, talvez você não saiba como funciona o estresse e o cortisol (por isto recomendo muito que você participe do mini-curso. Clique aqui.) e é por isto que antes de falar sobre a HSD1 vou fazer um resumo sobre o cortisol.

O que é Cortisol

Cortisol é um hormônio secretado pelas glândulas Adrenais. Em respostas à situações de estresse, a produção de cortisol pelas Adrenais aumenta. Ele é classificado como um dos Glicorticóides, o que significa que entre suas ações está uma que se relaciona diretamente com o metabolismo da glicose, bem como proteínas e ácidos graxos (gordura). As várias funções do cortisol são especialmente importantes quando se trata de controle do humor e bem-estar, células do sistema imune, inflamações sistêmicas, vasos sanguíneos e pressão arterial, e na manutenção de tecidos conectivos como ossos, músculos e pele. Sob situações de estresse, o cortisol mantém a glicemia (através de vários processos metabólicos), a pressão arterial, e limita o excesso de inflamações. Além de uma potente ação anti-inflamatória, o cortisol efetua um importante papel no controle das respostas imunológicas do corpo.

Até aqui tudo bem, este é um pequeno resumo do lado bom do cortisol. O problema acontece quando há liberação excessiva de cortisol e isto acontece quando se tem uma situação de estresse crônica. E o que deixa você estressado hoje em dia? Nem me fale, eu também sou como você e preciso dosar a minha exposição ao cortisol gerenciando meu estresse diariamente.

O cortisol na época das cavernas x na época da modernidade.

Tentarei ser o mais breve possível para te situar o quanto antes. Bom, acontece que no passado, na época dos homens das cavernas, dos homens primitivos, a liberação do cortisol era um dos mecanismos que ajudavam na sobrevivência porque, como o homem primitivo não tinha lanchonete e supermercado à sua volta, ele tinha de buscar alimentos e isto envolvia também caçar. Na situação em que o corpo precisa produzir energia para o exercício físico, o cortisol contribui fazendo a quebra de proteínas (músculos) e gorduras para participarem de um processo chamado Gliconeogênese, o qual leva à produção de glicose, a qual é lançada na corrente sanguínea para ser utilizada pelos músculos em ação. Então, o nosso amigo das cavernas começaria a correr atrás de sua comida, gastando energia para o exercício e o cortisol contribuindo para produção de energia à medida que a corrida se prolongava.

Até aí, tudo bem, bacana. Caçando para alimentar. No entanto, o outro lado da moeda também era feroz… Muitas vezes quem se tornava a caça era o próprio homem das cavernas pois, se deparasse com um predador, tipo, um Dino, ou um tigre dentre de sabre, ele não teria muitas chances de vencer a fera e o melhor a se fazer era disparar em corrida intensa, como se sua sua vida dependesse disto, o que de fato, dependia! Ou seja, nesta situação, de estresse, o corpo precisava se preparar rapidamente para liberar energia de forma rápida para a fuga. E é aí que entra o cortisol para produzir energia.

homem das cavernas no maismusculacao.net

Nesta situação havia também a liberação muito rápida e abrupta de Adrenalina. A adrenalina também é liberada pelas Adrenais (repara no nome) e ela dá aquela “Turbinada” no corpo: Acelera a frequência cardíaca, a frequência respiratória, a tensão nos músculos, a liberação de calor através da sudoreses, e outras características. Estando o corpo preparado para a luta ou a fuga, ele irá precisar de… Energia! O cortisol vem, ajudando a liberar energia rápida para a corrente sanguínea.

Até aí, tudo bem novamente. O homem das cavernas fugia, a reação de estresse diminuía e os níveis de cortisol voltavam ao normal…

Agora, nós, seres primitivos que usam celular, carros, e relógios, em nosso tempo de modernidade, temos os estressores um pouco diferentes: despertador pela manhã, o trânsito engarrafado, o chefe te dando mais serviço para executar em um tempo que nem dois dele mesmo conseguiriam fazer, as contas para pagar, o cartão de crédito vencendo, o vizinho te incomodando com a música alta, etc, etc, etc… Resumindo, produzimos reações de estresse o tempo todo e às vezes mal temos tempo para o cortisol ser normalizado na corrente sanguínea antes da próxima situação estressante.

O cortisol não retorna ao níveis basais durante o dia, fazendo gliconeogênese o tempo todo e produzindo mais glicose, que não é queimada porque você não tem nem condições de fazer exercícios físicos (sedentarismo), o dia é desgastante e estressante, o tempo fica curto, e a alimentação não é nada nutritiva pois, os alimentos modernos são muito pouco nutritivos. Resumindo, está pintado um quadro para perda de massa muscular, diminuição do metabolismo, acúmulo de gorduras (a glicose no sangue precisa abaixar pois se ela continuar alta faz mal ao organismo, é tóxica. A insulina entra fazendo a remoção da glicose do sangue e facilitando o acúmulo de gorduras).

Bom, seguindo este resumo, a solução mais rápida seria criar condições nas quais o seu dia seria menos estressante e portanto, haveria menor liberação de Cortisol, o que por sua vez controlaria melhor os níveis de glicose no sangue (pois não haveria gliconeogênese o tempo todo) preservando a sua massa magra, não estimulando a insulina, mantendo o corpo mais magro e saudável.

Agora, a questão é que, é possível uma pessoa gerenciar bem os seus níveis de estresse diários controlando a quantidade de cortisol liberado na corrente sanguínea, diminuindo seu acúmulo de gordura e perda de massa muscular mas este é apenas um lado da moeda. Mesmo produzindo cortisol em uma faixa “normal”, as suas células podem conter muito cortisol pois, o sinal para “enxergar” o cortisol pode acontecer de dentro para fora, fazendo elas acumularem mais gorduras. Este sinal, de dentro para fora, é gerado pela enzima HSD1.

A Enzima HSD1

Poderíamos ficar mais horas aqui explicando sobre todos os detalhes do cortisol (a base está no mini-curso, clique aqui para participar), do estresse e do acúmulo de gorduras, porém, o que quero enfatizar aqui hoje é o que acontece dentro das células.

A 11 beta-hidroxiesteróide desidrogenase do tipo 1, HSD1, é uma enzima que se encontra em várias células do corpo, porém com maiores concentrações no tecido adiposo (gordura), no tecido hepático (fígado), e cerebral. Por causa de sua posição dentro da célula (mais especificamente na membrana do retículo endoplasmático) ela expressa-se “forçando” a célula de gordura a “enxergar” ou “perceber” altos níveis de cortisol. Mesmo quando os níveis de cortisol no sangue estão normais, as células são expostas à alto níveis de cortisol, de DENTRO pra fora! É como se fosse um amplificador intracelular.

A obesidade está associada com uma exposição aumentada ao cortisol. A gordura abdominal é em si um tecido inflamado, ou seja, ela causa a liberação de marcadores inflamatórios que através de uma sequência de eventos metabólicos leva ao fim das contas à uma produção aumentada de cortisol para conter esta inflamação (assunto inteiro para ser detalhado em um outro artigo), pois o cortisol tem entre suas propriedades a função anti-inflamatória. Só que, lembre-se, também tem a função de liberar energia para a corrente sanguínea, energia que não é aproveitada pois a pessoa está sedentária, e isto leva àquele ciclo novamente de glicose alta no sangue, insulina para baixar, etc , etc que no fim das contas faz o corpo: acumular mais gorduras!!

Felizmente, um dos benefícios da contração muscular é ser anti-inflamatória, explico melhor este ponto em outro artigo =) . Clique aqui se quiser conhecê-lo.

Como a HSD1 está fazendo a célula “perceber” altos níveis de cortisol (mesmo quando este níveis estão “normalizados” na corrente sanguínea) ela tem um sinal potente para acumular gorduras. É como se a pessoa estivesse lutando contra o seu próprio metabolismo. (Parece-lhe familiar??)

A HSD1 catalisa a transformação da forma inativa do cortisol, a cortisona, na sua forma ativa, cortisol. Aqui a genética individual pode ter a sua parte de contribuição no seu metabolismo pois, pesquisadores já identificaram pessoas com altos níveis de estresse e de cortisol na corrente sanguínea, e estarem no seu peso normal, bem como pessoas que estão com sobrepeso e obesidade e terem níveis de estresse diários e cortisol sanguíneos baixos. Então a questão não é somente a quantidade de estresse diário e cortisol no sangue, mas ao mesmo tempo, a quantidade de exposição individual ao cortisol, na qual a HSD1 tem um importante papel. A genética individual pode determinar se uma pessoa tem maiores níveis de expressão e quantidade da HSD1 em comparação com outras pessoas.

Um alta atividade da HSD1 pode significar uma maior taxa de estímulo ao acúmulo de gorduras. Gordural abdominal em excesso aumenta os níveis de marcadores inflamatórios, o que por sua vez estimula a produção ainda maior de cortisol. Resultado: mais gordura acumulada! E lembrando que eu te disse que além do tecido adiposo outras células como as do fígado também possuem HSD1 em suas estruturas, isto significa mais gordura no fígado! Condição que contribui para a obesidade e o pré-diabetes! Obesidade e diabetes leva à inflamação e novamente vai todo aquele raciocínio…

Ok, o assunto é chocante, não é comum em mídia nacional, não é dito por aí, e é avançado! Eu sei disto. Contudo, esta é mais uma das razões por que vale a pena investir em qualidade de vida através da musculação, exercícios físicos e nutrição inteligente a maior parte dos dias semana. A musculação, além de anti-inflamatória, também aumenta a expressão dos hormônios e enzimas que queimam gorduras, melhoram a captação de glicose pelas células, desintoxicam o fígado, aumentam a sua vascularização periférica, te deixam mais disposto, saudável, bonito(a), alegre, com energia para o dia a dia e em condições de ter uma expectativa de vida melhor e envelhecer com qualidade, para por exemplo, lembrar do nome dos seus filhos e filhos dos seus filhos… Poderia enumerar mais uma lista enorme dos benefícios das musculação e dos exercícios físicos.



Fechando a parte 1

Certo, o artigo está ficando extenso e longo pois o tema é pesado, eu sei! Ao mesmo tempo, aqui no Mais Musculação(o site que te ensina a entrar em forma e cuidar da saúde) você somente encontrará informações valiosas baseadas na ciência e na prática profissional de um Personal Trainer e justamente por isto, este site não é para qualquer um! É para quem deseja as informações mais certas, científicas e discutidas entre os melhores profissionais da saúde e do fitness nos meios acadêmicos. Nada de repetição de dieta da lua, de marte, de vênus, ou os blá blá blá que pessoas desinformadas falam por aí.

Eu sempre quis abordar este assunto aqui no site, mesmo sabendo que se trata de muita informação, e por isto resolvi dividí-lo para finalizá-lo em outra parte. Na continuação eu continuarei explicando um pouco mais sobre a HSD1 e o quê você pode fazer para minimizar seus efeitos no seu metabolismo! 😉

Vou fechando por aqui desejando-lhe muito sucesso em seus treinos!

Treine forte e alcance sucesso!

Um grande abraço!

Mais Musculacao.net



Referências:

  • The Cortisol Connection- Why stress makes you fat and ruins your health and what can you do about it- Shawn Talbott, PH.D. 2ª edição- Hunter House Publishers.
  • Black, P. H. “The inflammatory Consequences of Psychologic Stress: Relationship to Insulin Resistance, Obesitym Atherosclerosis and Diabetes Mellitus, Type II.” Medical Hypotheses, 2006, 67(4): 879-91, E-pub 15 June 2006.
  • Toralles, M. B. P.; Jamile R. K.; Liv A. C.; Crésio A. D. A.; “The role of 11β-hydroxysteroid dehydrogenase type 1 and type 2 isoenzymes on the pathogenesis of Cushing’s syndrome”. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, vol. 20, núm. 2, 2007, pp. 104-110.
  • Bujalska, I. J.; M. Quinkler, J. W. Tomlinson, C. T. Montague, D. M. Smith, and P. M. Stewart. “Expression Profiling of 11 Beta-Hydroxysteroid Dehydrogenase Type-1 and Glucocorticoid Target Genes in Subcutaneous and Omental Human Preadypocytes.” Journal of Molecular Endocrinology. October 2006, 37(2): 327-40
  • Matos, A. F. G.; Rodrigo O. M.; Erika P. G.; “Aspectos Neuroendócrinos da Síndrome Metabólica”. Arq. Bras. Endocrinol. Metabol., volº 47 nº 4. Agosto 2003.

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